CAPÍTULO 1

Mais uma vez acordei atrasada para ir ao colégio, aquele despertador era o mesmo que nada, o som era extremamente baixo ou então eu, nos meus sonhos profundos, não ouvira tocar. No colégio já haviam reclamado não sei quantas vezes pelo os meus atrasos constates, mas o que eu podia fazer? Claro, acordar cedo, mas que graça tinha ir à um colégio onde eu era novata e ainda por cima só tinha uma amiga? Me sentia solitária e com medo de que essa minha única amiga faltasse a aula, ai sim, estaria completamente solitária.

"Está atrasada novamente, não é mesmo dona Júlia?", com as mãos na cintura e uma expressão de autoridade minha mãe conseguia me tirar de qualquer desvaneio que tivesse. Levantei da cama e fui direto para o banho e em seguida tomei um café quentinho ainda de toalha. "A senhorita realmente acha que está podendo ficar relaxada assim, não é? Deixa eu te lembrar, você está a-tra-sa-da! Se apresse!!", que mania minha mãe tinha de me chamar de 'dona' ou 'senhora' quando estava me dando bronca. Mas obedeci calada.

Chegando no meu quarto, coleguei minha calça jeans clara, meu tênis de oncinha e a farda horrível do colégio. Fiz uma maquiagem levinha e depois me olhei no espelho. Cabelos castanhos escuros com mechas mais claras, cara pálida e cheia de sardas, baixinha e os olhos da mesma cor do cabelo. É, é por isso que não tinha meninos atrás de mim naquele colégio, eu era muito comum, sem atrativos e ainda esquisita pelo fanatismo por história. Nossa, aquela matéria era tudo, a perfeição, como conseguiam odiá-la? Os únicos dias que não me atrasava é quando tinha aula de história nos primeiros horários. 

"Vamos, dona Júlia! A caminhada até o colégio não é tão pequena como talvez você esteja achando, espero que consiga chegar pelo menos no segundos horário!", e novamente aquele 'dona' e a voz rígida me fizeram despertar do meu desvaneio. Peguei minha bolsa e um casaco e sai correndo.
...

"Atrasada novamente! Não é possível, Júlia Franco. Quero que vá conversar com o orientador do ensino médio no intervalo. Você já é segundo ano, ano que vem tem vestibular, esperava mais responsabilidade.", e foi assim que fui recebida no meu adorável colégio pela minha querida coordenadora. Não era falta de responsabilidade, era só sono e desprazer ao pensar nesse colégio, ok, irresponsabilidade. "Tudo bem", falei pouco na intenção de ela se tocar que o discurso típico dela era exagero e inútil. 

 "Posso entrar, professora?", quase sem voz, interrompi a aula de matemática do segundo horário. "Faça o favor, querida", não sei porque, mas esse 'querida' me soava tão falso... entrei e me acomodei na cadeira no fundo da sala. Odiava sentar lá, pois não conseguia aprestar atenção na aula direito, já que de lá eu conseguia ver toda a zoeira e as conversas paralelas existentes durante a aula. Mas me esforcei em ficar atenta à professora, porque desenhar na mesa durante a aula de uma das matérias mais complicadas não é muito inteligente, como fazia um menino coberto até a cabeça pelo casaco de capuz sentado perto de mim.

"Estão dispensados", logo após essa frase relaxante da professora, escutei um coro "Até que enfim". Mais três aulas se passaram e eu estava apreensiva para o intervalo, o que será que o orientador me diria ou faria? Ele mandaria a coordenadora me dá uma suspensão por eu ser uma irresponsável sem conserto? Deus queria que não.
...

Nunca tinha entrado e nem ouvido falar de alguém que já esteve nessa sala antes. Era um sala pequena com apenas uma cadeira, onde o orientador aparentemente ficava, uma mesa na frente dessa cadeira e mais duas atrás da mesa, onde eu sentaria para receber o meu julgamento. E por ultimo um sofá de couro branco no canto da sala. Tinha também uns objetos de decoração e uns três quadros, mas nada muito glamouroso como a sala da diretora ou da coordenadora. Pelo menos tinha ar condicionado. 

Fiquei sentada no sofá com minha bolsa do meu lado e enquanto eu esperava o orientador, fiquei lendo sobre a revolução francesa. "Bom dia, ótimo assunto a ser estudado, sente-se em uma dessas duas cadeiras e vamos começar.", aquele era meu orientador?!?! Meu Deus, ele é tão... é tão... Que olhar ele tinha, parecia que conseguia ver por dentro de mim! Seus olhos estavam concentrados fortemente nos meus, era tanto que senti até um choque. Não era sempre que um par de olhos azuis me encaravam tão intensamente assim. 

Me levantei meio envergonhada, sentei na cadeira da direita em frente a ele, até que sua voz grossa voltou a dominar a acústica da pequena sala.

CAPÍTULO 2

"A coordenadora me relatou que você está chegando atrasada quase todos os dias faz um mês. Ela pediu para eu saber porque isto está acontecendo e te alertar que 28 faltas levam a expulsão. E pelo que estou vendo aqui na sua ficha que foi entregue, a senhorita já tem 21 faltas.", eu sabia que ele estava me falando algo importante, mas não conseguia parar de pensar em como ele estranhamente parecia com  Thor dos Vingadores, tipo, como assim?! Eu esperava um velho todo estranho e no lugar me aparece um jovem musculoso, loiro e de olhos azuis, com o maxilar mais definido que já vi e aposto que o abdome não fica para trás. 

"Senhoria Júlia?", aquela voz grossa e linda me despertou do meu desvaneio sobre sua beleza. "Desculpe, do quê o senhor está falando?", tive que ser sincera, não escutei nadica do que ela havia falado. E ele respondeu paciente e com um sorriso disfarçado. "Pode me chamar de Paulo, eu gostaria de saber por que a senhorita tem faltado tanto?", ok, com um pouco de esforço, dessa vez consegui escutar o que falara. "Acho que meu despertador é terrível, nunca escuto ele tocar, mas posso lhe garantir que não é preguiça de vir ao colégio", era preguiça de ir ao colégio, sim. Ele sorriu escancaradamente dessa vez e depois ficou me explicando como fazer para não me atrasar, mas eu só conseguia pensar 'o que um cara tão lindo e aparentemente tão jovem está fazendo trabalhando como orientador em um colégio com alunos tão sem noção?'

"É isso. Espero não vê-la aqui mais, por esse motivo, claro.", OI? "Está liberada", ele disse isso se levantando e indo a minha direção, pegou a minha mão na intenção de me ajudar a levantar e logo depois me pegou pela cintura e me encostou ao seu corpo por uns 5 segundos. Nunca me senti tão embaraçada! Se fosse qualquer outro funcionário daquele colégio eu teria saído correndo daquela sala, mas com ele, eu queria morar lá. 

...

"Como foi na sala do orientador gostosão, ops, Paulo?", pelo visto eu não era a única a achar aquilo, minha única amiga Letícia também achava o orientador Paulo um lindo.
"Sua boba, foi tudo normal... No final que foi meio estranho, aliás não, deve ser impressão minha, deve ser algo comum dele", eu sempre contava tudo o que acontecia na minha vida para a Let e com isso não poderia ser diferente, apesar de eu achar que ela me julgaria e me chamaria de doida logo após eu contar.
"Fala, Juh!!!", impaciente como sempre, ela quase deu um grito para eu falar e então eu contei sobre aquela "pegada" na cintura e o abraço de 5 segundos que o Paulo me deu. 

"Meu Deus, Júlia Franco! É sério?!?! De jeito nenhum isso é algo comum dele, muito pelo o contrário! Ele é extremamente sério e mal olha nos olhos das alunas que vão lá, quanto mais abraçá-las. Aquela nojenta da Carla já foi lá umas vezes na intenção de conquista-lo, mas escutei ela contando para as amiguinhas dela no banheiro que ele não deu a mínima bola para ela."
"Como assim ele não deu bola para a Carla?! Ela é a menina mais atraente nesse colégio. Pera ai, por que ele foi tão, digamos, cordial comigo? Porque ele agiu daquele jeito?"
"Com certeza ficou interessado!!!!!!!! Porque não vai lá mais vezes conversar com ele para descobrir quais são as intensões dele? E relaxe, aquele lindo tem apenas 20 anos, quatro anos de diferença não tem problema, certo?", nunca fui de ficar paquerando menino nenhum, sou mega tímida, mas o Paulo, não tinha como eu fugir daquilo.
"Certíssimo!"

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Blogueira: Laysse Cavalcanti

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